Corpoestrela.

Às vezes a vontade que vem é de dizer mil coisas, mas quando alguém se aproxima pra ouvir, aquela inquietação cala e me faz ouvir algo que está sendo dito lá dentro, no âmago. E as transformações óbvias de tão evidantes parecem amendontradoras. É, afinal de contas o mundo não é mesmo feito somente de idéias, o seu rosto vai transparecer o que o estômago urge. A cabeça, vira mera estátua de vácuo, estando apenas ali provavelmente pra dar cabimento aquilo que é latente, ou simplesmente pra não deixar que metade da vida se vá, junto com a outra metade: linda, cheia, dourada e brilhante; que hoje vi ao amadurecer no céu, pertencente ao pulso do coração.
Numa situação recente que durou uma hora, pude perceber onde estava o erro que há dias eu procurava, aquele, que me causava tantas dores, tantos emails de amor descompassado e de explicações sentimentais.
Por um momento embaçado por lágrimas quase forçadas por viver mais uma vez essa situação lúgrube e pungente, antenei-me do quanto a minha fraqueza instantânea era apenas a prova daquilo que eu não conseguia entender quando a quase dois anos atrás decidi fazer o caminho reverso.
Nada estará bem fora quando o dentro ainda estiver desajustado.
Parei, pensei, refleti alguns minutos e me dei conta do quanto aquela hora que eu havia perdido era preciosa, porque dentre todo o meu pesar de me sentir incomodada e presa, limitada e vítima das circunstâncias, vi, que ali dentro, residia mais caixotes enormes de apegos meus, do que o que eu poderia imaginar.
Logo em seguida já estava sorrindo e feliz e achando tudo ótimo fazendo planos, mas ainda com uma sensação estranha de estar num loop desgovernado que me levaria pra lugar nenhum. E uma ressalva: eu quero ir pra esse lugar nenhum.
Adoraria estar no sonho dentro do sonho de alguém onde estavamos sendo abduzidos. Faria exatamente igual: sorriria e acharia o máximo, porque talvez, até o presente momento passado, essa seria a única forma que tiraria de mim o peso da angústia que carrego sem saber porquê.
Falta de Deus no coração? Falta de meditação? Um pouco dos dois alternadamente. Mas que esta afirmação não conceitue-me como uma pessoa perdida e louca, irresponsável e inconsequente; não, não! Muito pelo contrário. Lembro bem quando uma amiga falou-me que estava novamente confusa e eu atomaticamente retruquei: Amiga, se acostume, a confusão nos faz parte.
Hoje, um pouco mais clareada das idéias, assim como a janela que se encontra atrás de mim no meu aconchegante (?) quarto - agora sem tantos mais objetos que me remetem o aconchego; revejo que a maioria das vezes todo esse meu sofrimento provém da experiência do inevitável. De alguma forma espero por ele como um auto-condenamento, o que sempre é penoso, como o amor que durou quase dois anos.
Até meses atrás eu saberia que seria possível. Mas quando a impermanência tsunâmica se instalou no meu presente-passado e o inevitável construiu alicerces e por aqui ficou, não pensei na possibilidade de desistir do meu sonho ainda distante, por justamente considerar que tudo não precisaria de mais nada do que apenas o sentimento verdadeiro, ou traduzindo do meu vocabulário de muletas emocionais: apego.
Então, o ponto nevrálgico mais uma vez se apresentou e eu o vi, claramente em todas as minhas relações amorosas, nos dias solitários em Brasília, ou Jericoacoara, ou aqui em Teresina mesmo, ou na falta de amor dita por uma amiga que há tempos eu não via e me fez ter a sensação de que a vi somente pra que ela pudesse me proferir essas poucas palavras e eu finalmente terminasse o meu dia, o meu ano, o meu ciclo vicioso, e de alguma forma, mesmo ainda não tendo voltado às meditações nem aos treinos de muay thai, creio que agora posso adormecer um sono mais tranquilo e profundo.



1 comentários:

Unknown disse...

acordei e li seu post no blog e fiquei com os olhos umidos de alegria pelas belas belas palavras - vim aqui e li seu texto e senti junto a vc esses conflitos porque são os seus conflitos, mas são também o de todos nós e quando temos oportunidade de nos abrir para os outros vamos percebendo que sofremos o mesmo sofrimento não é... kerouac é inigualável, li livros demais, agora só necessito dele, é meu budo de todos os tempos - se valer a dica, o proximo passo será certamente o On The Road - Pé Na Estrada - mas essas viagens, é como vc mesma disse, não estão em lugares distantes, mas extamente onde já se está - viajar onde já estamos. muito amor querida amiga do caminho - irmãos de estrada!

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